Este espaço foi pensado para divulgar e discutir a Cidade de Ipu/CE de uma forma bem espontânea, através de crônicas, causos, versos, além de opiniões e comentários diversos, tanto do autor, quanto dos nossos visitantes. O blog IPU EM CRÔNICAS E VERSOS, embora com muita humildade, busca também promover as peculiaridades do Nordeste através do cordel, uma das expressões mais originais de nossa cultura. Sejam todos bem-vindos! (Ricardo Aragão)



17 de setembro de 2012

AQUI SE FAZ... AQUI SE PAGA!

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NÃO HÁ JUSTIÇA MAIS CERTA!






  
Nossa terra tão querida
Tem andado envergonhada,
Triste, feia, abandonada,
Mancando e muito ferida.
Terra mal defendida.
Leiloada e sem oferta.
Assombrada e em alerta.
Mas não é luz que se apaga.
Aqui se faz. Aqui se paga!
Não há justiça mais certa!

Houve dia de esperança
Num certo tempo passado.
Se acreditava um bocado
Que o bom tempo se alcança,
Com progresso e importância.
O coração chega aperta!
Pensando: agora se acerta!
Mas essa verdade naufraga...
Aqui se faz. Aqui se paga!
Não há justiça mais certa!

Quem gosta de seu lugar,
Jamais o deixa esquecido,
Capenga, desvanecido.
Nunca deve relaxar.
E por esse torrão lutar,
Com a paixão que desperta,
Dessa gente bem esperta.
E essa verdade propaga.
Aqui se faz. Aqui se paga!
Não há justiça mais certa!

Há muito que se falar
E nem precisa esconder.
Basta só virar pra ver
E começar a reparar,
Pra logo se desejar
Nossa cidade liberta
Da nuvem que a encoberta,
Pavimentando tal fraga.
Aqui se faz. Aqui se paga!
Não há justiça mais certa!




Ricardo Aragão
Ipu/CE, 17.09.12










Fonte da imagem:






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15 de fevereiro de 2011

A TESTEMUNHA


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O Raimundo Salú
É um cabra querido.
Adonde ele anda
Eu fico perdido.
Tem ele a vivênça,
O tino, experiênça.
O homi é sabido!

Quando diz uma coisa
Se presta atenção.
Pois dele se espera
Uma boa lição.
Pra tudo no mundo,
Tem nosso Raimundo,
A explicação!

Quando ele se cala
Pra ficar só ouvindo,
Se chega a pensar
Que tá é dormindo.
Que tolo engano,
Pois tá matutando
E de tudo sorrindo.

Só tem uma coisa
Que o encabrunha.
É chamar o Raimundo
Pra ser testemunha.
O cabra é zangado.
É prego dobrado.
É dedo sem unha.

Certo dia, no rádio,
Surgiu uma briga.
Dois véi discutindo,
Tamanha intriga!
Disseram: o Raimundo,
Tem o testemunho,
A verdade a ser dita.

A briga era feia!
Um véi irritado,
Cobrava uma venda
De bosta de gado
Que o outro comprou
E nunca pagou,
Deixando fiado.

Pior foi a zanga
Do Salustiano
Com esses dois véi
Que estavam brigando.
Chega aqui, seu safado
Disse o Raimundo, danado,
Pulando e gritando!

Ora, como é que pode?
Eu aqui sossegado,
Meu rádio escutando.
Que mal empregado!
Testemunha eu virei
De um negócio tão fêi
De merda de gado!

Esses féla da gaita
Estão me amolando!
Falou o Raimundo
Com o rádio quebrando,
E prum santo jurou,
Que não testemunhou
O que tá se contando.

Um dos véi, já com medo,
Esperando clemência,
Acabou com a querela
E pediu paciência.
Pelo mal, pelo bem,
Na semana que vem
Vai ter audiência!





Ricardo Aragão
Ipu, fev/2011







Raimundo Salustiano Magalhães, ou simplesmente "Raimundo Salú", é um cidadão ipuense da mais alta conta. Homem de vasto conhecimento, simples, honrado e honesto, negociante daqueles tempos em que a palavra era o maior empenho.

Raimundo é meu tio afim, casado com minha tia Carmita Aragão, irmã de meu pai, e nem preciso dizer do carinho que tenho por este homem de cara trancada, mas de coração maior do que ele. Esses singelos versos tentam traduzir isto, mas com um pouco de irreverência, ingrediente que ele também aprecia por demais.


A história da briga dos velhos aconteceu mesmo, durante o meu programa de rádio, Sábado de Samba, pela Rádio Iracema de Ipu. Mas foi uma brincadeira entre meu amigo Rômulo Augusto e eu, que simulávamos dois velhos (Raimundo do Estrume e Expedito da Lagoa, respectivamente), discutindo por causa de uma carrada de estrume que o primeiro comprou do segundo e não pagou. Aí resolvi botar o Raimundo Salú como "testemunha", pois sabia que ele estava ouvindo o programa.

Essa brincadeira rendeu boas risadas depois e, até nos estabelecimentos da cidade (como na agência do Banco do Brasil por exemplo), o povo interpela o meu tio Raimundo Salú sobre a briga dos "véi". Daí surgiu a ideia de fazer esse pequeno cordel contando a inusitada situação.

Dedicado ao meu querido tio Raimundo Salú, o protagonista (e também "testemunha") dessa história hilariante!


Com carinho,
Ricardo Aragão




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29 de dezembro de 2010

OCIOSIDADE







Mas ora, vejam vocês!
Que coisa mais interessante!
A ociosidade deste blog,
Paradão e tão distante.
Sem nenhuma publicação,
Desde a história do coração,
Sem vogal ou consoante!

Mas deve haver um motivo,
Circunstância, explicação.
Que possa esclarecer
Tamanha paralização.
Talvez o tempo não dê
Para o poeta fazer
Essa atualização.

Mas não basta só o texto
Sem a tal inspiração.
Quem sabe esta só venha
Com ajuda da emoção,
Que por sinal só existe,
Sendo alegre ou até triste,
Se houver um coração!

Mas o coração existe,
Este sempre baterá!
Insultando o intelecto
Do poeta polupar
Para fazer um cordel,
Afinal é seu papel,
Esse povo alegrar!



Ricardo Aragão
Ipu/CE, 29/12/10



Imagem: "Quadro Branco Vazio"
http://1.bp.blogspot.com/_8kPpqWayvuA/SNAOQa2xnHI/AAAAAAAABeg/
jT8e-s0lk_A/s320/quadro+branco+vazio.jpg


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1 de setembro de 2010

PEITICA DE BRIGÕES

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Em briga de valentões,

Não se tem um vencedor.

Um quer ganhar no grito,

O outro, no destemor.

Mas o embate é perdido,

Sem vencedor ou vencido,

Perdedor ou Ganhador!




Proseando d'outra forma,

Não perdura a confusão,

Quando não há um consenso,

Encerra-se a discussão.

Pra que ficar na peitica,

Com insulto e futrica,

Se nenhum tem a razão?




Ricardo Aragão
Ipu(CE),Set/2010






Imagem:
Asterix & Obelix

Edição:
Ricardo Aragão

Fonte:
http://www.quirao.com/en/p/figurines/comic-strip-characters-/
18215/asterix-obelix-zizanie-13-resine-leblon-delienne.htm

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29 de junho de 2010

DESTINO SOBERANO

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Quando criança eu ouvia

Às vezes uma canção

Anunciando a profecia

Sobre o meu pobre torrão

Que iria se transformar

Todinho em um grande mar

E o mar num vasto sertão



hoje não mais duvido

Dessa malograda sorte

Ao ver as tantas enchentes

Aqui pras bandas do Norte

Pernambuco e Alagoas

Essas duas terras tão boas

Viraram terras da morte



Com as chuvas que assolam

Os irmãos pernambucanos

E que também tanto afligem

Os pobres alagoanos

Fico a pensar com medo 

Naquele triste enredo

Que ouvia naqueles anos



Mas Deus sabe o que faz

Pra cada um tem um plano

É por isso que pretendo

Continuar só pensando

Sem querer questionar

Nem tão pouco criticar

O destino soberano




Ricardo Aragão
Ipu(CE), Jun/2010






Imagem:
"bello maranhão"

Fonte da Imagem:
http://4.bp.blogspot.com/_f5_poNdYa7M/SgRvPw3y-lI/
AAAAAAAABQI/673A4vCY9xk/s400/bello+maranh%C3%A3o.jpg



 

30 de maio de 2010

A INSPIRAÇÃO


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Eu não sei o que que há

Com essa tal inspiração.

Quando vai, não adverte,

Ficando fora um tempão.

Pois não é que a danada

Me deixou aqui sem nada,

Sem cordel pro meu cordão!




Ricardo Aragão
Ipu(CE),Maio/2010


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23 de abril de 2010

BORIS: UM ANO DE SAUDADE!

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Um ano passa bem rápido.

Não pensei que fosse tanto!

Sem meu pai, aqui do lado,

Sobra-me saudade e pranto.

Mas também boas lembranças

Dos momentos de esperança,

Que vivemos com encanto!



Sua bênção, Pai querido,

Onde quer que ora esteja,

Mas, sei, estás protegido,

E do lado de Deus festeja

Cada nosso bom momento,

Para nós, o grande alento,

É sua paz, temos certeza!






Com muitas saudades...



Borisão, te amo!





Ricardo Aragão
Ipu(CE), 23/04/2010


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18 de abril de 2010

CAUSOS DO IPU - FUMO CHEIROSO (Boris)

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Nesta semana está completando um ano da passagem do meu pai, Antônio Tarcízio Aragão (o saudoso Boris), para sua verdadeira vida, ao lado de Deus. Em homenagem a ele, estaremos editando e publicando alguns de seus escritos aqui, em nosso blog Ipu em Crônicas e Versos. O material é composto, em sua maioria, por crônicas e causos sobre o Ipu e alguns de seus personagens peculiares. Mas, eventualmente, publicaremos também alguns versos do Borisão. Alguns desses escritos já foram publicados noutros ambientes virtuais (como no site da AFAI, por exemplo) e em periódicos da Terra de Iracema, como as séries "Casarões do Ipu" e "Causos do Ipu", as quais reproduziremos aqui neste blog com imenso prazer para que muitas outras pessoas tenham acesso ao que deixou escrito meu querido e amado pai. Com vocês, o primeiro capítulo da série "Causos do Ipu":




FUMO CHEIROSO






Por Boris (Dez/2006)




Há muitas décadas, uma família de Santana do Acaraú(CE) veio de muda aqui para Ipu. Vicente Sabino, casado em segundas núpcias com Dª Nana, trazendo alguns filhos, entre os quais, José Maria Sabino que casou-se com minha tia Maria Clotilde (a saudosa tia Mariinha).

O Sr. Vicente Sabino, homem branco de olhos azuis, muito educado, de bons costumes e ao mesmo tempo cavaquista e gozador, parecia até com um descendente de europeus. Costumava usar uma boina de tecido, suspensórios e tamancos de madeira (na época era comum também para homens), além de adorar pitar um cachimbo.

Seu Vicente era comerciante e encadernador de livros. Em sua bodega vendia de tudo um pouco. Era chamado pelos mais íntimos de tio Vicente. Tinha um excelente "papo" que atraia fregueses e rendia-lhe grandes amizades aqui em Ipu. Sua bodega sempre tinha muita gente, a maioria para conversar e ouvir as estórias do velho.

Lá pelos idos anos quarenta, quando quase não existia variedade de produtos industrializados e quase tudo que se vendia era natural, manufaturado ou fabricado artesanalmente nos sítios e fazendas. Nossa região, principalmente a serra, produzia muito fumo e o seu beneficiamento era feito manualmente e em forma de grossas cordas, meladas com uma calda preta pegajosa, e eram enrodilhadas e embaladas dentro de malas de couro para não ressecar nem perder o aroma.

Tio Vicente, além de ser um especialista no produto, fazia um tradicional torrado de tabaco e o vendia em corrimboques feitos de pontas de chifres de boi, com uma tampa de casco de cabaça, com uma correia de couro para facilitar sua remoção. Era comum gente com um corrimboque no bolso, com torrado para inalar nagiragas que causavam estranha sensação, seguida de crise de espirros.

Naquela época, cigarro industrializado também não era muito comum. Usava-se muito o cigarro de fumo picado e enrolado em palha de milho ou papelina. Meu saudoso sogro, Antônio Carvalho Martins (Martinzão ou Bodão, como era conhecido), conservou essa tradição enquanto fumante e afirmava não existir sabor igual.

Na bodega do tio Vicente tinha algumas malas de fumo sob o balcão e quando o freguês procurava, ele arrastava a ponta da corda de dentro da mala para cima do balcão, onde tinha a vara de medir (régua de madeira própria) e o cortador, em forma de guilhotina.

Conhecia-se o fumo pelo cheiro. Cheiro mais ativo, fumo mais forte; cheiro mais moderado, fumo mais fraco. Mas, entre os extremos, existia uma grande variedade de fumos que só com um sensível faro e bom conhecimento se identificava.

Numa bela manhã de sábado, em plena feira, bodega cheia de gente - uns comprando, outros apenas conversando - um freguês de fumo pede ao tio Vicente:


- Seu Vicente, deixe eu espiá os fumo aí.


Tio Vicente puxa uma corda de fumo, o fregues pega, cheira...


- A mincê me mostre outro aí.


Tio Vicente puxa outra corda, mais outra, e o "cara" só cheirando. Já com o nariz todo melado de golda de fumo, o freguês pede mais uma corda pra experimentar e, quando cheira, solta um estrondoso peido. Meio sem jeito, ainda interpela o tio Vicente:


- A mincê num tem um fumo mais forte aí não?!



Tio Vicente, já p. da vida, responde taxativo:


- Fumo pra cagar eu não tenho não, seu peidão!!!


E já foi enrolando as cordas de fumo para guardá-las sob risos e gargalhadas da platéia presente.





 Redação:
Antônio Tarcízio Aragão
(Boris)



Adaptação / Edição:
Ricardo Aragão



Imagem:
http://i.olhares.com/
data/big/316/3166770.jpg



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12 de abril de 2010

PROGRAMA DO BORIS

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Antônio Tarcízio Aragão (Boris)





Ouvindo belas canções,

O coração fica feliz.

Batendo bem compassado,

Pulsando como quem diz:

Ah! Que bonita canção!

Assim declara o coração

Ao Programa do Boris!



(Ricardo Aragão)






Breve Histórico do
PROGRAMA DO BORIS






Em agosto de 1998, após incessantes convites do amigo e radialista Bosco Farias, Boris - não obstante sua inexperiência radiofônica - aceitou fazer um programa de saudades na Rádio Iracema de Ipu, emissora pioneira na radio-difusão na Terra de Iracema. Nascia o "Programa do Boris", que foi ao ar durante alguns anos na Iracema e durante outro período na Rádio Regional, ambas de Ipu.

Em 2007, após um período longe dos microfones, Boris retomou o seu programa na emissora que o projetara (Rádio Iracema), mantendo a nomeclatura e o estilo do "Programa do Boris".

O retorno foi em pleno vapor, pois o Borisão estava muito motivado pelo reinício de seu programa e ansioso para voltar a levar aos seus ouvintes as belíssimas canções que tornaram o "Programa do Boris" um dos líderes de audiência no município de Ipu e região. Aliás, outro fator que atiçou o interesse do locutor foi o descomunal crescimento da audiência da Rádio Iracema de Ipu, que já estava transmitindo sua programação pela internet e, assim, sendo ouvida por qualquer pessoa em qualquer canto do Planeta Terra. Inclusive, devido a esse advento, Boris passou a anunciar o seu programa como: "Programa do Boris, um programa sem fronteiras!". Boris deu uma roupagem nova ao programa, porém manteve sua identidade, cujas características principais são: a boa música (com ênfase à música brasileira), informações e curiosidades do mundo artístico-musical e, claro, muito romantismo.

Boris faleceu em abril de 2009, mas seu filho Ricardo Aragão deu continuidade àquele que se tornou o programa saudosista mais conhecido e ouvido na região: o "Programa do Boris", mantendo o nome e o estilo que o consagrou.

No entanto, a saudável missão de levar adiante o projeto do inesquecível e insubstituível Borisão à frente do "Programa do Boris" deu a seu novo locutor, Ricardo Aragão, uma grandiosa responsabilidade. Não se trata de, simplesmente, substituir seu velho e saudoso pai (Boris) no comando do seu programa de rádio, pois jamais haverá outro igual ao Boris. Mas, sobretudo, pelo compromisso de manter a qualidade, o estilo e o bom gosto do "Programa do Boris". Contudo, essa missão é bastante atenuada pela predileção que o filho tem pelo gosto musical do pai, peculiaridade esta, que ameniza sobremaneira essa dura, porém prazerosa missão, pois Ricardo Aragão não apenas apresenta o "Programa do Boris", ele curte fazer isto. Eis o segredo!




Ricardo Aragão no "Sábado de Samba"




Ricardo também faz um programa dedicado ao gênero musical que mais identifica o Brasil mundo à fora: o Samba, comandando o programa Sábado de Samba, também pela Rádio Iracema de Ipu, que vai ao ar todo sábado, de meio-dia às 14 horas.

Portanto, se você gosta de boa música e tem interesse nos pomenores do mundo artístico-musical, fica o convite:


* Programa do Boris: toda segunda-feira, das 20 às 22 horas.

* Sábado de Samba: todo sábado, de meio-dia às 14 horas.


Contato: ricardo.boris@gmail.com






Redação, Edição e Fotografia:

Ricardo Aragão
Ipu(CE), Abr/2010



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8 de abril de 2010

OUSADIA DO POETA

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Olhando o nascente sem barra na linha,

Pedimos por chuva no nosso sertão.

Água boa do céu pra molhar nosso chão

E a fertilidade pra nossa terrinha,

Que sente saudade da água que tinha

No poço, no açude, no riacho e no ar.

Do jeito que vai, onde vamos parar?!

Pelo visto o poeta se precipitou.

Pois o mar em sertão não se transformou.

Quem dirá o sertão transformar-se no mar!





Ricardo Aragão
Ipu(CE), Abril/2010




Fotografia
(Faz.Boris - Ipu/CE):
Ricardo Aragão




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