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Por Antônio Tarcízio Aragão (Boris)
”Terra cheia de encantamento
E de eterna bondade,
Sempre no meu pensamento,
No meu sonho de ansiedade.
Quero cantar tua beleza
E o teu doce passado,
Terra do meu coração
E do meu amor
És toda minha adoração”...
Desfile de 26 de agosto (anos 50)
Os encantamentos estão sumindo, a bondade em vão resistindo. Somente o pensamento consegue resgatar em nossos sonhos de ansiedade, tua beleza, tua cultura e a história do teu doce passado. Terra do meu coração e do meu amor, eras toda minha adoração e hoje, infelizmente, é a minha indignação. Esta é a triste reflexão que hoje consigo fazer sobre essa linda estrofe do hino do Ipu, de autoria do ilustre ipuense Zezé do Vale.
Inauguração do Jardim 26 de Agosto (1940)
Nosso querido Ipu, hoje tomado por forasteiros descompromissados, apropriados do poder com a anuência da maioria dos teus filhos, entre os quais, felizmente não me incluo, iludidos e ludibriados pelas fictícias promessas não cumpridas de melhores dias e de progresso. Teus filhos ilustres hoje são menosprezados, teus pobres humilhados, tua história maculada com páginas negras que bem podiam ser eliminadas. Mas, não. As tuas tradições, essas sim, são brutalmente ignoradas e relegadas ao simples desprezo de quem não tem o mínimo compromisso, senão, de apenas satisfazer seus instintos perniciosos de egoísmo e vaidade. Assim como tantas tradições, que são indiferentemente quebradas, também alguns versos do nosso glorioso hino, em breve, deverão ser mudados por conflitarem com a tua triste realidade. O teu passado não será mais doce, pois terás absorvido bocados amargos e a tua beleza, maculada pelos maus tratos de quem não soube te amar de verdade, já não serás mais a mesma, pois as marcas e cicatrizes ficarão enxovalhando a tua face pálida e tristonha.
Monumento pelo centenário de Ipu (1940)
Duas das maiores tradições de nossa cidade, além da festa do padroeiro, eram as comemorações cívicas do 26 de agosto – dia do município - e sete de setembro. Salva de vinte e um tiros às cinco horas da manhã, anunciava o amanhecer de um dia festivo e nos despertava contaminados com um forte sentimento de patriotismo; desfiles de soldados do “Tiro de Guerra” e alunos das escolas locais adornavam as ruas repletas de gente que vibrava ao som dos velhos dobrados militares; concentração cívica formada em frente ao Paço Municipal, onde se posicionavam as maiores autoridades civis, militares e eclesiásticas da cidade, a banda de música, com o seu uniforme de gala, animava a cerimônia e entoava o Hino Nacional para o hasteamento das bandeiras. A cerimônia prosseguia com discursos das autoridades alusivos à data. À noite, o encerramento das comemorações era marcado, sempre, com uma seção solene onde se apresentavam artistas da terra, pequenas exibições teatrais, tudo em homenagem àquela data festiva. Hoje, as coisas mudaram e mudaram para pior. O dia do município já não é mais comemorado no dia 26, depende das conveniências de quem governa a cidade e o espírito de civismo não se faz mais presente, nem mesmo no 7 de setembro. Isso é lamentável, mas, infelizmente ocorre! A prioridade hoje é a animação com caríssimas bandas de forró para atrair multidões e desviar o foco dos festejos, dando uma falsa impressão de comemoração de tão importante data.
Desfile de 7 de setembro (anos 50)
Às vezes, no calor de paixões partidárias, nos envolvemos com determinados tipos de pessoas, que apenas por acaso, nasceram em nosso território, mas, nunca se deram conta de que o local onde nascemos é o nosso verdadeiro berço, é nossa terra mãe e como tal deve ser cultuada e amada como nossa mãe biológica, que nas suas entranhas nos gerou e com o seu leite materno nos criou. É assim que geralmente vemos os que nascem em nossa terra, como irmãos, filhos da mesma mãe. Entretanto, nessa irmandade, nem todos os mortais têm essa concepção de reconhecimento e gratidão. São meros seres vivos, como irracionais que, pela sobrevivência física e ideológica fazem o papel de verdadeiras feras predadoras. E, quando disso nos damos conta, muitas vezes é tarde demais, já temos criado e fortalecido um inimigo latente, pronto para nos devorar e causar os mais diversos malefícios à nossa terra-mãe e aos nossos irmãos. Para esse tipo de irmãos devemos está sempre atentos, para que eles nunca se sobreponham a nós, fazendo prevalecer os seus instintos grotescos de tirania e maldade.
Festejos de São Sebastião (Anos 50)
Necessário se faz, contudo, o nosso alto controle emocional na hora de escolhermos um verdadeiro líder para nossa família, que governe nossa casa e nos conduza com isenção e justeza, que conserve nosso lar com equilíbrio e sensatez, na paz e na prosperidade, visando, sempre, o bem estar de todos, sem perder de vista o futuro que irá acolher nossos descendentes, as gerações futuras. Assim poderemos cantar com patriotismo a música do ipuense Wilson Lopes “Ao Meu Ipu Querido”, que também - e tão bem - poderia ser o nosso hino de amor ao Ipu.
Oh meu Ipu querido,
Terra de São Sebastião,
Talvez que tenha sido aqui
O paraíso de Eva e Adão.
Oh meu Ipu querido,
Terra tradicional,
Eu me sinto orgulhoso
De tu seres o meu torrão natal.
Tenho amor à minha terra,
Que fica bem pertinho da serra,
São Sebastião
Que é o nosso padroeiro,
Peço que seja aqui
O meu suspiro derradeiro
Oh meu Ipu...
Antônio Tarcízio Aragão (Boris)
Ipu/CE, 07/09/2008
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Este espaço foi pensado para divulgar e discutir a Cidade de Ipu/CE de uma forma bem espontânea, através de crônicas, causos, versos, além de opiniões e comentários diversos, tanto do autor, quanto dos nossos visitantes. O blog IPU EM CRÔNICAS E VERSOS, embora com muita humildade, busca também promover as peculiaridades do Nordeste através do cordel, uma das expressões mais originais de nossa cultura. Sejam todos bem-vindos! (Ricardo Aragão)
5 comentários:
Parabéns, meu pai, pela magnífica crônica que, mais que qualquer coisa, retrata a indignação (que não é somente sua) pela falta de respeito e compromisso pela história e tradições culturais de nossa terra e do nosso povo.
Lamentável que tenhamos que recorrer a fotos DO PASSADO para mostrar o que devia estar acontecendo NO PRESENTE. O que nos leva à indagação de como será NO FUTURO.
Felizmente temos como, pelo menos, mostrar esta indignação para as novas gerações para, quem sabe, saberem preservar o que ainda temos.
Parabéns, Borisão!
Seu filho, Ricardo.
Amigo Ricardo.
Saudações de sucesso!
Aposto que estou fazendo parte deste desfile, pois foi em 1950 que terminei o Curso Primário, na então Escolas Reunidas de Ipu, hoje Auto Aragão.
Agradecidamente,
jpMourão
Boris,
É emocionante esse seu relato telúrico. Sua indignação, seu amor, sua vontade de preservar as tradições que aos poucos vão dando lugar as coisas novas sem grandes significados para nós que temos um amor especial e nos encantamos com nosso torrão natal.
É uma luta árdua, sem reconhecimento, mas cabe a cada um de nós que acredita em seu chão levantar nossa bandeira a despeito dos que pensam diferente e desdenham deste amor maior, que só pessoas especiais tem a capacidade de sentir.
Mestre BORIS
"Tocar na banda
para ganhar o que?...
Uma Mariola
e um cigarro Yolanda"
O TEMPO NÃO PARA. ELE VAI EM FRENTE.
NUNCA CREIAS QUE A ESPERANÇA É MORTA.
CHICO PARNAIBASNO
-Porque é bom ser do IPÚ
Primeiro quero louvar a iniciativa do Ricardo em disponibilizar este espaço - histórico - para todos os que comungam interesse pela terra IPU;
Ricardo, vc está fazendo história com arte, e, útil, com propósito! É possível claramente perceber o zelo nos detalhes estéticos e especialmente na inteligência da articulação do roteiro/conteúdo;
Ao Boris,
Confio e aposto, meu amigo, que as tradições não terão fim, posto que havemos(nós, cidadãos ipuenses) de resgatá-las e colocá-las no seu devido lugar de RESPEITO E COMPROMISSO.
Desejo VIDA LONGA ao "IPU EM CRÔNICAS"
Forte abraço a todos,
Guto.
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