.
O Raimundo Salú
É um cabra querido.
Adonde ele anda
Eu fico perdido.
Tem ele a vivênça,
O tino, experiênça.
O homi é sabido!
Quando diz uma coisa
Se presta atenção.
Pois dele se espera
Uma boa lição.
Pra tudo no mundo,
Tem nosso Raimundo,
A explicação!
Quando ele se cala
Pra ficar só ouvindo,
Se chega a pensar
Que tá é dormindo.
Que tolo engano,
Pois tá matutando
E de tudo sorrindo.
Só tem uma coisa
Que o encabrunha.
É chamar o Raimundo
Pra ser testemunha.
O cabra é zangado.
É prego dobrado.
É dedo sem unha.
Certo dia, no rádio,
Surgiu uma briga.
Dois véi discutindo,
Tamanha intriga!
Disseram: o Raimundo,
Tem o testemunho,
A verdade a ser dita.
A briga era feia!
Um véi irritado,
Cobrava uma venda
De bosta de gado
Que o outro comprou
E nunca pagou,
Deixando fiado.
Pior foi a zanga
Do Salustiano
Com esses dois véi
Que estavam brigando.
Chega aqui, seu safado
Disse o Raimundo, danado,
Pulando e gritando!
Ora, como é que pode?
Eu aqui sossegado,
Meu rádio escutando.
Que mal empregado!
Testemunha eu virei
De um negócio tão fêi
De merda de gado!
Esses féla da gaita
Estão me amolando!
Falou o Raimundo
Com o rádio quebrando,
E prum santo jurou,
Que não testemunhou
O que tá se contando.
Um dos véi, já com medo,
Esperando clemência,
Acabou com a querela
E pediu paciência.
Pelo mal, pelo bem,
Na semana que vem
Vai ter audiência!
Ricardo Aragão
Ipu, fev/2011
Raimundo Salustiano Magalhães, ou simplesmente "Raimundo Salú", é um cidadão ipuense da mais alta conta. Homem de vasto conhecimento, simples, honrado e honesto, negociante daqueles tempos em que a palavra era o maior empenho.
Raimundo é meu tio afim, casado com minha tia Carmita Aragão, irmã de meu pai, e nem preciso dizer do carinho que tenho por este homem de cara trancada, mas de coração maior do que ele. Esses singelos versos tentam traduzir isto, mas com um pouco de irreverência, ingrediente que ele também aprecia por demais.
Raimundo é meu tio afim, casado com minha tia Carmita Aragão, irmã de meu pai, e nem preciso dizer do carinho que tenho por este homem de cara trancada, mas de coração maior do que ele. Esses singelos versos tentam traduzir isto, mas com um pouco de irreverência, ingrediente que ele também aprecia por demais.
A história da briga dos velhos aconteceu mesmo, durante o meu programa de rádio, Sábado de Samba, pela Rádio Iracema de Ipu. Mas foi uma brincadeira entre meu amigo Rômulo Augusto e eu, que simulávamos dois velhos (Raimundo do Estrume e Expedito da Lagoa, respectivamente), discutindo por causa de uma carrada de estrume que o primeiro comprou do segundo e não pagou. Aí resolvi botar o Raimundo Salú como "testemunha", pois sabia que ele estava ouvindo o programa.
Essa brincadeira rendeu boas risadas depois e, até nos estabelecimentos da cidade (como na agência do Banco do Brasil por exemplo), o povo interpela o meu tio Raimundo Salú sobre a briga dos "véi". Daí surgiu a ideia de fazer esse pequeno cordel contando a inusitada situação.
Essa brincadeira rendeu boas risadas depois e, até nos estabelecimentos da cidade (como na agência do Banco do Brasil por exemplo), o povo interpela o meu tio Raimundo Salú sobre a briga dos "véi". Daí surgiu a ideia de fazer esse pequeno cordel contando a inusitada situação.
Dedicado ao meu querido tio Raimundo Salú, o protagonista (e também "testemunha") dessa história hilariante!
Com carinho,
Ricardo Aragão
.